Coleção de Videoarte Alfredo Hertzog: um acervo que se pensa
Calcada no contemporâneo, a videoarte completa mais de meio século de existência no Brasil. É atenta a seu tempo e dedicada a essa expressão artística que se constitui a Coleção de Videoarte Alfredo Hertzog com mais de 250 trabalhos experimentais, históricos e recentes da produção videográfica.
Somada a uma forte presença da videoarte brasileira, a coleção integra artistas renomados diversas nacionalidades como África do Sul, Albânia, Alemanha, Argentina, Áustria, Bélgica, Bulgária, Canadá, Chile, Colômbia, Cuba, Escócia, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Israel, Itália, Japão, Líbano, México, Peru, Portugal, Rússia, Sérvia, Suíça, Taiwan e Ucrânia.
Constituída de forma precoce, a Coleção se estabeleceu já na década de 1980, com aquisição de obras dos anos 1970, momento em que “novas mídias”, entre elas a videoarte, se consolidavam no campo artístico brasileiro, buscando reconhecimento nas exposições de museus, galerias e bienais. Os anos que se passam entre a primeira e a segunda metade da década de 1970 definem o início da primeira geração de videoartistas no Brasil, período este que é acentuado pela profusão de trabalhos realizados por mulheres artistas. São vídeos históricos que marcaram época e as artes brasileiras por seu caráter experimental e forte teor político. Entre os trabalhos dessa fase que integram a Coleção, há três vídeos da artista baiana, radicada no Rio de Janeiro, Letícia Parente (Brasil, 1930-1991), com destaque para Marca Registrada de 1975. Uma de suas obras mais conhecidas, é neste registro que vemos a artista costurar com linha e agulha a expressão “Made in Brasil” sobre a sola de seu pé. Além de Parente, o repertório da Coleção da década de 1970 se completa com os vídeos das artistas Carmela Gross (Brasil, 1946), Lucila Meirelles (Brasil, 1953), Regina Vater (Brasil, 1943) e Gretta Sarfaty (Grécia-Brasil,1947). Em continuidade dessa primeira geração da videoarte brasileira, outro destaque da Coleção são as obras de Rafael França (Brasil, 1957-1991), em especial, Prelúdio de uma morte anunciada de 1991. Este vídeo é uma reflexão autobiográfica, finalizado poucos dias antes de seu falecimento decorrente de complicações advindas da AIDS. No âmbito internacional, das obras dos anos 1980, se destaca Sync Touch, de 1984, da estadunidense, ativista lésbica-feminista, precursora do filme experimental e queer, Barbara Hammer (EUA, 1939-2019).
Atualmente a maior parte do acervo é composta por obras realizadas nas décadas de 2000 e 2010. No núcleo nacional sobressaem os trabalhos de Brígida Baltar (Brasil, 1959-2022), Cao Guimarães (Brasil, 1965), Cinthia Marcelle (Brasil, 1974), Dalton Paula (Brasil, 1982), Eder Santos (Brasil, 1960), Eduardo Kac (Brasil, 1962), Jonathas de Andrade (Brasil, 1982), Lenora de Barros (Brasil, 1953), Marcia Beatriz Granero (Brasil, 1982) e as duplas: Gisela Motta (Brasil, 1976) & Leandro Lima (Brasil,1976), Angela Detanico (Brasil, 1974) & Rafael Lain (Brasil, 1973) e Dias (Brasil, 964) & Riedweg (Suíça, 1955).
Já no rol internacional o acervo reúne Adrian Melis (Cuba, 1985), Antoni Muntadas (Espanha, 1942), Charbel-joseph Boutros (Líbano, 1981), David Claerbout (Bélgica, 1969), Filipa Cesar (Portugal, 1975), Humberto Díaz (Cuba, 1975), Jorge Macchi (Argentina, 1963), Marina Abramović (Servia, 1946), Mauricio Alejo (México, 1969), Gabriel Acevedo Velarde (Peru, 1976), Kaoru Katayama (Japão, 1991) e a dupla, John Wood (Japão, 1969) & Paul Harrison (Inglaterra, 1966). Entre as obras mais recentes, produzidas a partir de 2020, destacam-se os trabalhos das artistas dissidentes como Jota Mombaça (Brasil, 1991), Manauara Clandestina (Brasil, 1992) e Seba Calfuqueo (Chile, 1991). Com trabalho voltado também à pesquisa, a incorporação de obras dessas jovens artistas demonstram a dedicação da Coleção não só com a história e o experimentalismo de outrora, mas com o que há de mais oxigenado na videoarte.
Khadyg Fares, maio de 2024